Dados do Trabalho
Título
USO DE TRAÇÃO HALO-CRANIANA PRÉ-OPERATÓRIA PARA FLEXIBILIZAÇÃO DE DEFORMIDADE ESCOLIÓTICA DE ALTO VALOR ANGULAR
Introdução
Em escolioses com curvas severas e rígidas, cujas deformidades angulares são maiores ou iguais a 100º, o tratamento cirúrgico configura-se como um desafio aos cirurgiões de coluna, devido à necessidade de osteotomias associadas a grande perda sanguínea, além de maiores chances de complicações neurológicas e maior morbidade cirúrgica. A literatura descreve técnicas que objetivam reduzir parcialmente a rigidez das curvaturas antes da cirurgia definitiva, como a tração halo-craniana, técnica na qual se instala um halo craniano no paciente e gradualmente são adicionadas cargas ao halo, usando o peso do paciente como contra-força e referência para definição da carga colocada. Em procedimentos tradicionais com abordagem anterior e posterior combinadas para flexibilização desse tipo de curva, há aumento do risco de complicações devido à manipulação de grandes vasos, com sangramento sanguíneo extenso e aumento no tempo cirúrgico. Uma alternativa a essa abordagem, é a abordagem posterior extrapleural (PEISR) com osteotomia em cunha apical.
Relato de caso
Adolescente do sexo feminino, 13 anos, católica. Queixa-se de dispneia aos médios esforços e dorsalgia leve. História da doença atual: paciente com história de deformidade da coluna vertebral notada pela mãe aos 6 anos de idade. Dos 9 aos 12 anos, fez uso de colete de Milwaukee. Menarca aos 12 anos. Ao exame físico: aumento da área do triângulo de Talhe à esquerda, teste de Adams positivo com gibosidade costal direita, força global e reflexos normais. Na radiografia panorâmica foram medidas: curva torácica proximal 40º, curva torácica principal 110º e curva toracolombar 70º. Após testes de inclinação, as curvas reduziram para 30º, 90º e 60º respectivamente. Diante do quadro clínico e da rigidez da curva, foi instalada tração transcraniana por 5 semanas, com peso inicial de 5kgs (10% do peso da paciente) e progressão de 5kgs/semana com monitorização neurológica diária através de parâmetros clínicos. Após 5 semanas, com carga final de 50% do peso da paciente, novas radiografias evidenciaram flexibilização da curva lombar em 40% e torácica em 20%. Após realização de tomografia e espirometria, o procedimento foi realizado com acesso posterior isolado (PEISR). Foram ressecados os discos intervertebrais (T6-T7, T7-T8, T9-T10 e T10-T11), realizada osteotomia em cunha em T9 e preservação do feixe neurovascular para o músculo eretor da espinha. Paciente evoluiu bem no pós-operatório e fez uso de órtese toracolombossacra por 2 meses.
Conclusão
O uso da tração halo-craniana possibilitou locomoção à paciente por meio de cadeira de rodas, evitando restrição prolongada ao leito. A flexibilização da curva torácica em apenas 20% exigiu a necessidade de osteotomias de três colunas para melhor alinhamento coronal. A paciente desenvolveu hemotórax após lesão pleural acidental durante a cirurgia, o qual foi solucionado após colocação de dreno de tórax. Houve redução da curva torácica proximal para 12º, torácica principal, 16º e toracolombar para 7º.
Área
Deformidade na criança
Autores
Indira Luz Silva, Denise Marques Costa Pereira Silva, Paulo Rodrigues Cruz Neto, Ayrana Soares Aires