X Congresso Brasileiro de Cuidados Paliativos

Dados do Trabalho


Título

AUTONOMIA EM IDOSOS EM CUIDADOS PALIATIVOS

Introdução

Considerando os vínculos sociais presentes na história de vida dos indivíduos, torna-se possível pensar na prática do exercício da autonomia não como uma autonomia absoluta mas, através da construção de identidade desses sujeitos. Pensando especificamente na situação da pessoa idosa em um momento de terminalidade, é preciso atentarmos às várias vulnerabilidades e fragilidades presentes nessa fase de vida e as relações de poder presentes no contexto médico que, pautadas no domínio do conhecimento científico com enfoque curativo, podem gerar a violação do direito à autonomia.

Objetivo e Método

À vista disso, esse trabalho objetivou compreender como se dá a autonomia da pessoa idosa em um contexto de terminalidade e internação, através da perspectiva do próprio idoso. Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter exploratório e transversal, voltado para a descrição e compreensão das percepções sobre autonomia de pacientes idosos internados em uma enfermaria de Cuidados Paliativos. A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada e a análise dos dados foi realizada de acordo com a técnica de análise de conteúdo de Bardin, sendo os resultados sistematizados em quatro categorias temáticas: “Significados atrelados à palavra autonomia”, “Autonomia em saúde e sua relação com o poder biomédico”, “O respeito à autonomia e seu exercício atrelado à constituição do ser” e “É possível ser autônomo sozinho?”.

Resultados

Foi percebido que havia um desconhecimento desses sujeitos sobre o que é ser autônomo, implicando em como - e se - esse exercício se faz exequível. Esse paciente-idoso apresenta-se duplamente objetificado, pela idade e pela hospitalização, e suscetível à forças disciplinadoras regidas pelo poder biomédico, tornando mais árduo esse processo de tomada de decisão compartilhada. Um caminho possível a se pensar se faz através da educação em saúde e de uma comunicação clara e acessível. Foi observado outras interferências presentes no processo decisório, como a rede de suporte, seja ela presente ou ausente, e seu ser histórico-político-geográfico. Assim, torna-se impossível aspirar por uma autonomia plena e absoluta, sendo necessário refletirmos sobre como agem tais influências e como podemos articulá-las no momento de tomada de decisão.

Conclusão/Considerações finais

Assim, considerando o momento histórico atual - onde tantos direitos vieram a ser questionados - torna-se urgente possibilitarmos que as pessoas possam continuar decidindo - seja em sua vida, na sociedade ou na sua própria saúde.

Referências

Bardin, L. (2010). Análise de conteúdo. 4ª ed. Lisboa: Edições 70.
Beauchamp, T & Childress, J. (2013). Principles of biomedical ethics (7a ed). New York; Oxford: Oxford University Press.
Beauvoir, S. (1970). A velhice. São Paulo: Difusão Européia do Livro.
BRASIL. Lei 10.741 de 01 outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso. Brasília: DOU, 03 out. 2003.
Crispim, D. H. & Bernardes, D. C. R. (2022). Comunicação em Cuidados Paliativos. In Carvalho, R.T. et al. (Eds.), Manual da residência de Cuidados Paliativos (2a ed., Cap. 4, pp. 29-38). Barueri: Manole.
Cunha, J. X. P. et al. (2012). Autonomia do idoso e suas implicações éticas na assistência de enfermagem. Saúde em Debate, 36(95), pp. 657-664.
Domingues, R. C., & Freitas, J. L. (2019). A Fenomenologia do Corpo no Envelhecimento: Diálogos entre Beauvoir e Merleau-Ponty. Revista Subjetividades, 19(3), pp. 1-13.
Foucault, M. (2007). Microfísica do Poder (24a ed). São Paulo: Edições Graal.
Gaspar, R. B. et al. (2019). O enfermeiro na defesa da autonomia do idoso na terminalidade da vida. Revista Brasileira de Enfermagem, 72(6), pp. 1639-1645.
Guenther, L. (2020). Critical Phenomenology. In Weiss, G., Murphy, A. V. & Salamon, G. (Eds), 50 Concepts for a Critical Phenomenology (Cap. 2, pp. 11-16). Evanston: Northwestern University Press.
Haeser, L. M., Büchele, F. & Brzozowski, F. S. (2012). Considerações sobre a autonomia e a promoção da saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 22(2), pp. 605-620.
Merleau-Ponty, M. (1999). Fenomenologia da percepção (ed). São Paulo: Martins Fontes.
Nicodemo, I. P. & Torres, S. H. B. (2022). Indicações de cuidado paliativo: os cuidados paliativos recomendados para cada paciente. In Carvalho, R.T. et al. (Eds), Manual da residência de Cuidados Paliativos (Cap. 3, pp. 18-28). Barueri: Manole.
Oliveira, M. Z. P. B. & Barbas, S. (2013). Autonomia do idoso e distanásia. Revista Bioética, 21(2), pp. 328-337.
Paranhos, D. G. A. M; Albuquerque, A. (2018). A autonomia do paciente idoso no contexto dos cuidados em saúde e seu aspecto relacional. Rev. direito sanit., 19(1), pp. 32-49.

Palavras Chave

autonomia; Idoso; bioética

Área

Populações

Autores

LÍVIA MARIA DE OLIVEIRA, LUCIANA SUELLY BARROS CAVALCANTE, ANA BEATRIZ BRANDÃO DOS SANTOS