Dados do Trabalho
Título
DOUTOR, MEU CORAÇAO E CORINTHIANO: RELATO DE CASO DE UM OBJETO INANIMADO COMO FIGURA DE APEGO
Apresentação do caso
E. O. S., 44 anos, masculino, casado, sem filhos, duas enteadas, bom vínculo com os pais e os irmãos, católico. Refere etilismo social, tabagismo (30 maços-ano) e uso recreativo de cannabis, sem comorbidades. Em maio de 2023 apresentou dor torácica em sensação de choque, persistente e de intensidade progressiva, evoluindo em julho de 2023 com paresia e parestesia dos membros inferiores associada com perda ponderal. Encaminhado de um serviço de emergência de um hospital de São Paulo/SP para uma enfermaria de Ortopedia, foi verificada em TC a presença de fratura patológica de T3, com biópsia evidenciando neoplasia hipercelular epitelioide atípica de alto grau histológico. A equipe assistente convocou os Cuidados Paliativos devido a conflito com o paciente na comunicação diagnóstica. Foi realizado o acolhimento do paciente e dos seus familiares, duas reuniões familiares e alinhado um plano avançado de cuidados. O paciente trouxe como seu maior valor ser corinthiano. Entramos em contato com alguns jogadores do Corinthians, sendo feitos vídeos com mensagens para o paciente, fato que o emocionou e fortaleceu o seu vínculo com os profissionais, referindo que “ficou com as forças renovadas para tentar o tratamento”. Faleceu com controle adequado de sintomas em 03 de outubro de 2023.
Discussão
De acordo com John Bowlby (1907-1990), criador da teoria do apego, o ser humano se aproxima de modo instintivo a figuras de apego capazes de garantir sua sobrevivência. Além da figura de apego principal, tem-se ao longo da vida o surgimento de figuras de apego secundárias e substitutas, podendo ser objetos inanimados. Tendo em vista a abordagem do sofrimento biopsicossocial e espiritual pela equipe de Cuidados Paliativos, a identificação da figura de apego pode ser fundamental para a criação de vínculo e a construção de um plano avançado de cuidados. Neste relato de caso, ter ciência da paixão do paciente pelo clube de futebol, reconhecer esta importância e contando com a felicidade de ter um contato com jogadores do time fez com que o paciente se sentisse acolhido e respeitado, o que foi fator crucial para a reconstrução do vínculo.
Considerações finais
Foi demonstrado que a atenção às figuras de apego do paciente e aos valores por ele expressos fortalecem o vínculo com a equipe de saúde que por sua vez pode se apresentar como figura de apego secundária sensível às necessidades do paciente, sendo ferramenta de suporte na trajetória de doença e construção de plano avançado de cuidados.
Palavras Chave
Teoria do Apego; Figura de Apego; Cuidados Paliativos
Área
Outras áreas
Autores
JOAO VICTOR FURTADO PEIXOTO DE ALENCAR, CAMILA RODRIGUES RIBEIRO METZKER FERRO