Dados do Trabalho
Título
AUTONOMIA DO PACIENTE: O PAPEL DO PSICOLOGO HOSPITALAR E O ENCONTRO COM A TERCEIRA MARGEM
Apresentação do caso
Riobaldo (nome fictício), homem, 62 anos, casado, 5 filhos, autônomo, procedente de Manaus-AM, diagnóstico prévio de Mieloma Múltiplo (2022), realizado TMO em fevereiro/2023 e recidiva da doença em novembro/2023, chega à presente instituição em março/2024 para controle de sintomas e aguardando início de nova linha de tratamento, mantendo acompanhamento psicológico por 3 meses.
Paciente com histórico de acompanhamento psiquiátrico e psicológico, diagnosticado com Transtorno Depressivo Maior e Transtorno de Ansiedade.
Discussão
Em contexto de múltiplas limitações, mudanças de papeis sociais e prejuízo da autonomia, evidenciaram-se sentimentos de ansiedade e frustração relacionados à sensação de perda de controle, verbalizando se sentir “um peso”(sic). Mostrava-se mais passivo quanto a participação na definição de condutas e interação na rotina hospitalar.
A Política Nacional de Humanização, assim como o Manual de Cuidados Paliativos ANCP, propõem que a autonomia deve ser considerada norteadora das ações de promoção de saúde. Nesse sentido, a preservação da autonomia do paciente em contexto de adoecimento atua como fator protetivo à saúde, pois considera o processo de tratamento como uma co-constituição entre paciente, família e equipe.
Ao identificar as queixas e aprofundar suas demandas, foi possível, junto ao paciente, desenvolver estratégias partindo da aquisição de uma agenda, a fim de monitorar o tratamento e organizar os afazeres do dia, buscando criar uma rotina diante da internação prolongada.
Observou-se, então, uma postura mais ativa do paciente em relação ao tratamento e no relacionamento com a equipe, bem como otimização do manejo dos sintomas ansiosos.
Considerações finais
No conto “A Terceira Margem do Rio”, de Guimarães Rosa, o personagem do Pai parte em uma jornada solitária, para o meio do rio. Existe, assim, uma escolha autônoma de partir para a terceira margem.
Em um adoecimento oncológico, a jornada se inicia e o sujeito se percebe na terceira margem, como que num rompante, sem a “escolha” inicialmente proposta pelo autor do conto.
No entre-margens da vida e morte, apenas o próprio sujeito é capaz de experienciar a realidade da terceira margem. O Psicólogo Hospitalar entra com o papel de dar o contorno, as margens para que as águas fluam novamente e o sujeito possa se enxergar dentro do barco.
Recuperar a autonomia diz sobre desenvolver um “estar presente”, e das possibilidades de atuação a partir deste, para além da capacidade de “escolha".
Palavras Chave
Cuidados Paliativos; autonomia; Psicologia hospitalar
Área
Outras áreas
Instituições
Fundação Antônio Prudente - AC Camargo Cancer Center - São Paulo - Brasil
Autores
MARIANA GUIMARÃES LIMA, DANIELE BATISTA DE SOUSA, RODRIGO NORONHA DA FONSECA