Dados do Trabalho

Título

IRA EM CIRROSE – INDO ALEM DA SINDROME HEPATORRENAL: UM RELATO DE CASO

Apresentação do Caso

Homem, 45 anos, diagnosticado com cirrose hepática em 2021, dois anos após, foi internado em serviço terciário devido à melena. Em associação ao quadro, apresentou insuficiência renal, com creatinina de 3,5mg/dL e hipoalbunemia (3,1 g/dL). Em exame de urina, apresentava hematúria microscópica com dismorfismo eritrocitário positivo. Possuía FAN não reagente, bem como C3 e C4 normais. O paciente recebeu albumina IV por 3 dias, sem sucesso terapêutico. A etiologia da cirrose hepática não era evidente, pois o paciente não era alcoolista e apresentava sorologias virais com Anti-HCV negativo, HBSAg negativo, sendo positivo apenas as sorologias IgG contra esquistossomose e Anti-HBC IgG. O diagnóstico de infecção pelo vírus B foi aventada devido a positividade de carga viral (554 UI/ml) em exame de HBV-DNA. Com esse resultado, atribuiu-se ao caso o diagnóstico de provável glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) pelo vírus B da hepatite. A biópsia renal não foi realizada devido à plaquetopenia. O paciente recebeu alta hospitalar com creatinina de 4,7mg/dL, sendo iniciado tratamento com entecavir.

Discussão

A injúria renal aguda (IRA) é uma das principais e mais graves complicações da cirrose. Dentre as principais etiologias, destaca-se a síndrome hepatorrenal, sendo a complicação com o pior prognóstico, que foi excluída no caso em questão devido à presença de hematúria no exame de urina. A hepatite B, por sua vez, é uma importante causa de glomerulopatias não hereditárias, em especial GNMP, devido a mecanismos de autoimunidade. As manifestações clínicas da GNMP associada a infecção pelo HBV frequentemente se apresentam como síndrome nefrítico-nefrótica. O diagnóstico é definido, invariavelmente, pela biópsia renal.

Comentários Finais

A associação entre IRA e cirrose hepática não é infrequente e sua investigação etiológica é um desafio, pois o mais comum é associar o quadro à síndrome hepatorrenal. O caso descrito traz à tona um paciente jovem com métodos investigativos limitados, tendo em vista o quadro de plaquetopenia de base que impedia a realização da biópsia renal. Ademais, faz-se necessário mais estudos para determinar a incidência de infecções ocultas pelo vírus da hepatite B em pacientes com glomerulonefrites e DRC, posto que há um risco potencial de resultado HbsAg negativo ser suficiente para colocar o paciente em capilar de reuso, caso haja evolução para necessidade dialítica.