Dados do Trabalho

Título

INJURIA RENAL AGUDA GRAVE PRECOCE POR MORDEDURA DE CROTALUS: SERIE DE CASOS

Apresentação do Caso

A, Masculino, 80 anos, agricultor, procedente de Tejuçuoca/CE, admitido em unidade de saúde 6 horas após mordedura por Crotalus spp em 3º quirodáctilo direito. Apresentou rebaixamento do nível de consciência, 2 episódios de êmese, incontinência urinária e fecal, mialgia generalizada, ptose palpebral, midríase e bradipneia. Pressão arterial (PA) 140 x 90 mmHg, frequência cardíaca (FC) 101 bpm, cianose de extremidades e insuficiência respiratória. Procedidas à intubação orotraqueal (IOT) e hidratação. Administrou-se hidrocortisona venosa, soro anticrotálico e instituído suporte intensivo precoce. Evoluiu com injúria renal aguda (IRA) grave, precoce e oligúrica, iniciando terapia de substituição renal (TSR) diária. Apresentou rabdomiólise, (Creatinofosfoquinase sérica - CK máxima: 11.456 U/L), instabilidade hemodinâmica e sepse grave com necessidade de drogas vasoativas, indo a óbito no 40° dia.
B, masculino, 52 anos, agricultor, procedente de Tejuçuoca/CE, admitido em unidade de saúde 3 horas após mordedura por Crotalus spp em tornozelo direito. Sinais de ptose palpebral, diplopia, turvação visual, alteração do nível de consciência, mialgia, oligúria e mioglobinúria. PA 222 x 140 mmHg, FC 97 bpm, saturação 99%. Evoluiu com insuficiência respiratória e IOT. Prescreveu-se dieta zero, soro antibotrópico-crotálico, hidratação, nitroprussiato de sódio, antibioticoterapia de amplo espectro. Desenvolveu IRA grave, precoce, oligúrica e rabdomiólise, iniciando TSR diária. CK máxima = 12.753 U/L. Apresentou hemorragia digestiva alta durante a internação, recebendo alta hospitalar no 36° dia com remissão total do quadro de IRA.

Discussão

As serpentes do gênero Crotalus são responsáveis por 7,7% dos casos no Brasil, com letalidade de 1,9% relacionada à IRA. Possuem uma peçonha com ações neuro-mio-hematotóxicas, com gravidade variável, compatíveis com os pacientes A e B. Os pacientes apresentaram rápido quadro de insuficiência respiratória grave, IOT e ventilação mecânica. A e B são procedentes da mesma região e evoluíram com uma manifestação atípica de insuficiência respiratória aguda. Equipe interdisciplinar suspeitou de uma nova subespécie de Crotalus na região.

Comentários Finais

O envenenamento por Crotalus é associado a IRA tardia e não oligúrica, acompanhada de rabdomiólise. Os casos relatados evoluíram de forma grave e com necessidade de IOT precoce. Novos estudos são necessários para esclarecimento da fisiopatologia da IRA e planejamento de medidas de saúde eficazes.