1° Congresso Norte-Nordeste de Nefrologia

Dados do Trabalho


Título

ESPONDILODISCITE ESTAFILOCOCICA: RELATO DE CASO EM PACIENTE PORTADOR DE DOENÇA RENAL CRONICA (DRC) SUBMETIDO A HEMODIALISE DE MANUTENÇAO

Apresentação do Caso

Paciente masculino, 63 anos, portador de DRC estágio V por provável nefroesclerose hipertensiva, submetido à terapia renal substitutiva no programa de hemodiálise de manutenção há 2 anos, com acesso atual por fístula arteriovenosa (FAV) no membro superior esquerdo. Há 1 mês iniciou quadro de febre irregular e dorsalgia que se tornou intensa e persistente, refratária a analgésicos usuais, evoluindo com surgimento de paraplegia súbita. Ao exame, apresentava-se consciente e orientado; paralisia motora abaixo dos níveis T8-T10 e anestesia a partir de T11; força preservada nos membros superiores. Exames complementares mostraram leucocitose (15330/µL) e PCR elevada. Ressonância nuclear magnética da coluna torácica revelou: colapsos parciais (> 50%) nos corpos vertebrais T8-T9 associados à imagem de coleção/massa paravertebral; estenose do canal raquiano em T8-T9 (>50%) e medula espinhal com alteração de sinal sugerindo mielopatia/mielite entre T8-T10. Hemoculturas revelaram crescimento de Staphylococcus aureus sensíveis à meticilina. Coloração de Ziehl-Neelsen do material obtido por biópsia da lesão paravertebral resultou negativa. Guiado pelo antibiograma, foi submetido à terapia com oxacilina endovenosa por 14 dias seguido por sulfametoxazol-trimetoprim oral programado para 6 semanas. A paraplegia permaneceu e a neurocirurgia optou pela conduta conservadora.

Discussão

A espondilodiscite é um processo infeccioso raro que afeta o disco intervertebral e corpos vertebrais adjacentes, cuja prevalência nos pacientes submetidos à hemodiálise é superior à da população geral. Embora seja mais frequentemente observada em pacientes que realizam hemodiálise com cateter venoso central, aqueles com FAV também são acometidos. A sintomatologia inespecífica e o curso insidioso podem culminar em neuropatia compressiva. Relatamos um caso grave de espondilodiscite estafilocócica envolvendo a coluna torácica no qual a infecção ocorreu por disseminação hematogênica, detectada por hemoculturas.

Comentários Finais

A espondilodiscite infecciosa é uma complicação potencialmente catastrófica em pacientes dialíticos, cujo início insidioso e manifestações inespecíficas contribuem para a detecção e manejo tardios. O diagnóstico deve ser considerado em qualquer paciente em programa de hemodiálise que apresente dorsalgia persistente, sendo fundamental detecção precoce para que terapias efetivas evitem a progressão para sequelas incapacitantes e ameaça à sobrevida.

Área

Diálise

Instituições

Universidade Federal do Piauí - Piauí - Brasil

Autores

Gustavo Ramos Milheiro, Nicácia Carvalho Dantas da Fonsêca, Pedro Jorge Luz Alves Cronemberger, Alessandro Amorim Aita, Isabel Andrea Ferreira Carvalho, José Tibúrcio do Monte Neto