1° Congresso Norte-Nordeste de Nefrologia

Dados do Trabalho


Título

Hepatotoxicidade medicamentosa pelo uso de tacrolimo após transplante renal: um relato de caso.

Apresentação do Caso

Paciente de 28 anos, sexo masculino, hipertenso e portador de má formação do trato urinário congênita. Com 15 anos passou por nefrectomia esquerda e aos 24 anos passou por transplante renal (em maio de 2019), havendo melhora da função renal. Na terapia pós-transplante foi iniciado sulfametoxazol + trimetoprima, besilato de anlodipino, tacrolimo (TAC) e sirolimus. Em fevereiro de 2020, as transaminases oxalacética (TGO) e pirúvica (TGP) tiveram um aumento assintomático, estando a TGO = 69 U/L e TGP = 176. Houve então a suspensão do sulfametoxazol + trimetoprima, por suspeita de hepatotoxicidade medicamentosa. Como o aumento progrediu, foi iniciada em julho de 2020 uma investigação da causa desse quadro, porém as triagens para hepatite B, hepatite C, outras doenças infecciosas e fator antinúcleo foram negativas. Os exames da tireoide, colesterol e glicemia estavam normais e foram descartados usos de chás, suplementos ou outras medicações. A bilirrubina total estava 0,78mg/dL, fosfatase alcalina = 124 U/L, albumina = 5 g/dL e creatinina = 1,1 mg/dL, gama GT = 104U/L, TGO = 116 U/L e TGP = 240 U/L. A biópsia hepática laudou: hepatopatia crônica em discreta atividade associada à alteração hepatocitária do tipo Lafora-Like, com fibrose perissinusal discreta. Pelo padrão destacado na biópsia e os demais exames da triagem, a equipe multidisciplinar chegou à conclusão de que se tratava de uma toxicidade medicamentosa, havendo interrupção do uso do tacrolimo. A partir de agosto de 2020 o paciente se manteve em imunossupressão pelo uso de micofenolato de mofetila, sirolimus e prednisona. Houve lenta e gradual redução das transaminases hepáticas e em abril de 2021 o TGO estava 22 U/L e TGP=39, havendo normalização do quadro.

Discussão

TAC é um inibidor da calcineurina que é amplamente utilizado na imunossupressão após transplante. Entre os efeitos colaterais do TAC, está descrita na literatura a hepatotoxicidade. Entretanto, um estudo multicêntrico espanhol utilizou o TAC na terapia da hepatite autoimune e em 78% dos pacientes o medicamento foi eficaz, sendo descrita toxicidade não hepática em 4,3% e nenhuma hepatotoxicidade. Isso comprova que tais efeitos ainda carecem de esclarecimentos científicos aprofundados.

Comentários Finais

O TAC é amplamente utilizado após transplante renal, porém seus efeitos hepáticos ainda são controversos e pouco esclarecidos na literatura. Esse fato dificultou o diagnóstico da causa base do dano hepático relatado, atrasando a terapia e prolongando a hepatotoxicidade.

Área

Transplante

Instituições

Hospital Geral de Fortaleza - Ceará - Brasil, Hospital Universitário Walter Cantídio - Ceará - Brasil, Universidade Estadual do Ceará - Ceará - Brasil

Autores

Maria Marina Viana Oliveira, Thaysla Morais Soares, Humberto Lucca Andrade Moreira, Vytor Alves de Lavor, Paula Frassinetti Castelo Branco Camurça Fernandes, Vanessa Gurgel Adeodato